12/04/2002
Confira a entrevista do Surforeggae com a banda mineira Rasta Joint!
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 Antes de mais nada, gostaria de parabenizá-los pelo ótimo trabalho que a banda tem feito, e dizer que é uma satisfação poder entrevistá-los. A primeira pergunta é a seguinte: Quanto tempo de estrada tem o Rasta Joint?
Bulldog: Gostaria de agradecer os elogios e a oportunidade e mandar um salve a nação regueira que acompanha o Surforeggae e o Rasta Joint. Bem, o Rasta Joint completa em novembro 9 anos de estrada.
Charlin: Desde de 93.

 Quem escolheu o nome Rasta Joint ? Qual a inspiração?
Bulldog: Quando idealizamos a banda, eu e mais dois integrantes que não estão mais com a gente, nós tocávamos além de reggae o funk de Jorge Ben, Tim Maia, influências trazidas por nós do Rio de Janeiro (nós três somos cariocas). Dessa maneira queríamos valorizar o RJ no nome da banda. Depois de um ano, a banda começou a tomar consciência e entrar de cabeça no reggae, ficar séria e aí descobrimos o verdadeiro significado do nome: uma reunião, um encontro de Rastas, um Rasta Joint.

 Desde o início, a formação da banda é a mesma ou já houve algum tipo de alteração?
Charlin:Já houve diversas alterações. A banda formou-se em Viçosa, cidade universitária aqui do interior de Minas Gerais. As pessoas vêm pra estudar e formar em algum curso superior; depois vão trabalhar ou continuar estudando em outro lugar. Dessa maneira, já passaram diferentes bateristas, tecladistas, backin’ vocais, guitarristas, percursionistas, o pessoal do sopro... Da primeira formação, somente o Bulldog e eu.
Bulldog: Da formação original só sobrou eu e Charlin, mas a Fernanda e o Claudião estão a mais de 5 anos.

 Nos shows de vocês, rola uma vibração forte da galera. Nós associamos isso ao fato de vocês falarem muito de Deus, da música de louvor e tal. E nós percebemos que vocês falam muito em JAH. No reggae, a exemplo do próprio Bob Marley, há uma presença forte do rastafarianismo nas músicas. Como vocês vêem o rastafarianismo?
Bulldog: A vibração do nosso show é fruto da nossa vivência no reggae, não tocamos por modismo, realmente vivemos o reggae. A presença de palco do Charlin também ajuda muito, é um privilégio pra nós tê-lo como nosso vocalista. Quanto ao rastafarianismo, respeito profundamente apesar de não segui-lo. O reggae não seria do jeito que conhecemos sem o rastafarianismo. Antes o reggae falava de amor e com o rastafarianismo, o reggae se tornou devocional e político, passando a ser a voz da periferia, assim como o movimento hip hop também é hoje no Brasil.
Charlin: Vejo como a religião de um povo que tem seu modo de vida, crenças e hábitos próprios. Não o pratico, mas admiro muito, pois preza a liberdade e a paz, mantém viva as raízes de um povo e combate a Babilônia.
Fernandinha: Um dos caminhos para a evolução espiritual.

 Fale um pouco sobre o primeiro CD do Rasta Joint. Há quanto tempo foi lançado, quantas cópias já foram vendidas?Bulldog: Foi uma experiência muito marcante, pois foi feito por nós mesmos e conseguimos tirar leite de pedra. Para mim principalmente, como produtor do disco, foi muito gratificante. Eu considero até um cd de vanguarda: Fomos os primeiros a usar sitar e tamboura (instrumentos indianos) no reggae, samples, dubs, faixa interativa... Depois vi outras bandas usando e me senti gratificado. O cd foi lançado em dezembro de 99 e já saíram cerca de 4 mil cópias oficiais. Piratas...

 Qual a previsão para o inicio do próximo trabalho? e se já tem algumas músicas prontas?
Bulldog: Já iniciamos a fase de composição do novo trabalho, mas ainda sem previsão de lançamento. Quem sabe no fim desse ano.
Charlin: O próximo trabalho está sendo amadurecido. Como já comentei, as alterações na banda são freqüentes e isso afeta. Temos músicas já prontas, mas é muito importante estar sempre compondo.

 De onde vem a inspiração para as músicas?
Charlin: No dia a dia, na batalha, da natureza,de Jah.
Bulldog: Do nosso cotidiano, da situação política e social do nosso país e de Jah que nos inspira sempre.
Fernandinha: De dentro, do vazio.

 Alguma proposta de gravadora ou vocês continuarão independentes? 
Bulldog: Nós já recebemos propostas de algumas gravadoras, mas nenhuma se concretizou. Acredito que com o avanço da tecnologia, hoje é muito mais fácil gravar um cd. Eu mesmo tenho um home studio, onde pretendemos gravar o nosso próximo trabalho. Hoje em dia a maior dificuldade que encontramos é na distribuição dos cds, fazer o cd chegar no público. Talvez por isso nós vendemos apenas 4 mil cópias apesar de saber que pirata e mp3 já tem bem mais do que isso. Mas eu acho que faz parte, não acho que nosso cd tenha que vender nas lojas americanas, o trabalho não é direcionado para isso.
Charlin: Continuamos independentes até que apareça uma proposta interessante.

 Qual a opinião de vocês em relação ao que aconteceu no Tributo?
Charlin: Aconteceu uma invasão da massa regueira e o local não era suficiente para tanta gente. Faltaram ingressos, falsificaram outros tantos e a polícia deu um jeito de piorar as coisas. Desorganizou-se tudo.
Bulldog: Acho que foi indicativo do que o reggae pode vir (ou não) a se tornar, uma música pop e da mídia, sei que ali tinha muito regueiro, mas também tinha muitas pessoas que foram envolvidas pela mídia do evento e queriam participar de um grande festival. Acho que fugiu do controle da organização, foi a 1ª vez que acontecia um mega evento de reggae no país, e foi lá que deu pra constatar como o reggae vem crescendo no Brasil.

 Ainda falando do Tributo, a chamada "grande mídia", que em nenhum momento apareceu para ajudar em nada, aproveitou-se da confusão e foi oportunista para falar mal do evento. Até o Gugu mostrou imagens do conflito entre público e polícia militar no seu programa. Como vocês vêem a entrada do reggae na grande mídia?
Charlin: Creio que a grande mídia é falsa, mentirosa e tem medo da alegria da música reggae. Ela não merece o reggae.
Bulldog: Acho um tanto quanto perigosa, por vários motivos: A mídia consegue destruir movimentos culturais, como fez com a Black Music, os Hippies, os Punks, entre outros; A mídia está a serviço da grande máquina escravagista que está instalada no Brasil à 500 anos; A divulgação em massa leva ao surgimento de várias bandas de reggae, a maior parte sem conteúdo, sem compromisso com a cultura e o movimento reggae, cantando “marley, oi oi oi, ganja, Jah...”, aí essas são as que a mídia pega, por serem mais fracas politicamente e mais fáceis de serem seduzidas e manipuladas, falam qualquer coisa na tv e nas rádios, ridicularizam o movimento e este perde a força, derrubando anos de luta e conscientização de bandas e pessoas que lutam por uma causa maior. Sinceramente, prefiro o “anonimato”.
Obs: Não estou dizendo que não existam novos e verdadeiros valores surgindo, posso citar Unidade Punho Forte (RJ), Jahcareggae (DF), etc...

 O que vocês acham do reggae brasileiro e o reggae no Brasil?
Charlin: Acho o reggae brasileiro muito bom. Temos excelentes bandas como Edson Gomes e Cão de Raça, Tribo de Jah, Cidade Negra, Walking Lions, Unidade Punho Forte e diversas outras que estão por aí ou surgindo a cada momento e se propondo a fazer um reggae verdadeiro. Quanto ao reggae no Brasil, acho que está sendo ouvido e difundido cada vez mais. Tem muito ainda a conquistar, mas o Brasil é um país que recebeu muito bem o reggae. Temos artistas como Gilberto Gil, A Cor do Som, Luis Melodia etc, que usam muito bem esse ritmo.
Bulldog: O reggae no Brasil chegou da maneira correta, com a música, a cultura, os costumes, e assim foi se identificando com o povo brasileiro, por causa do conteúdo bem próximo da nossa realidade. Mas hoje em dia vejo o surgimento do “reggae universitário” assim como ocorreu com o forró, descaracterizando toda uma cultura, costumes, conteúdo, para se tornar um estilo musical juvenil, servidor da mídia, colaborador do sistema. Acredito no verdadeiro reggae brasileiro, compromissado, consciente, com influências musicais brasileiras, assim como o Edson Gomes e alguns outros o fazem.
Fernandinha: Acho que como todos os estilos musicais, tem muitas coisas boas e verdadeiras. Acho que poderia ser um grande veículo de conscientização, oração e disseminação de energia positiva.

 Pra encerrar, gostaríamos que deixassem uma mensagem positiva pra galera que curte o trabalho do Rasta Joint, e que visitam o Surforeggae, é claro....rs!
Charlin: À todos vocês que visitam o Surforeggae e curtem o trabalho do Rasta Joint e de todas as bandas espalhadas por aí, comprometidas com a mensagem de JAH, um grande abraço e fiquem em PAZ. 
Bulldog: Procurem sempre mais informações sobre o reggae, e sobre a verdade da nossa história, se informem para não serem bonecos do sistema, nós não merecemos isso. O reggae é uma música e um estilo de vida transformador, um canal direto com o Criador, uma voz contra o sistema, um retorno as nossas origens. Que a Paz de Jah esteja sempre com vocês.


Fonte: Renato Roschel Ribeiro





'Rasta Joint'


Vocalista da banda Rasta Joint na 4ª edição do FAMA






 
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