Quem é quem no reggae? Até que ponto é prejudicial gostar do "reggae comercial", se é que o mesmo é realmente prejudicial... Há tempos, e não só no reggae, defender uma determinada opinião, extrapolou as barreiras da discussão, partindo para a área da intolerância e, infelizmente, da violência. Futebol, religião, política e a mais recente das polêmicas, o Reggae Comercial.
Mas o que é esse Reggae Comercial? Dizem que são as bandas que tocam por dinheiro. Outros dizem que são bandas que não possuem músicas de cunho Rastafari. Outros, por incrível que pareça, dizem que o reggae comercial se caracteriza por músicas que ao invés de abordarem temas militantes, utilizam o Amor como foco (absurdo!). E tem aqueles que acham que tudo isso junto acaba dando o "Reggae Comercial". Será que dá para esplanar nesse assunto? Deixe-me tentar.
Fala-se, muito à esmo, em liberdade de expressão e coisa e tal, mas o que acontece na realidade, é que existe uma grande falta de respeito quando o assunto em questão é o reggae. No estilo Roots, não existe apenas protestos. Quem conhece Gregory Issacs, estrela mundial do reggae, sabe que a maioria de suas músicas falam de amor. E por que crucificar essas bandas iniciantes? Deixem eles falarem de praia, de fogueira, afinal, não são coisas boas? O reggae não se caracteriza por ser uma música que expressa ao máximo a positividade do ser humano ("Positive Vibration")? Então, cada um fica com suas ideologias e artistas, seja Maskavo, Planta & Raiz, Expressão Regueira, To fly, ou seja Hugh Mundell, Aswad, Augustus Pablo, Max Romeo... enfim, não só fale em liberdade de expressão, mas exercite.
O que talvez possa trazer um pouco de indignação aos "regueiros mais experientes", é o fato de alguns grupos que estão despontando para o sucesso, se rotularem ROOTS e mencionar Jah e o Rastafarianismo como se realmente respirassem isso 24hs por dia... ou se nomear BANDA de REGGAE e levar um som próximo ao tal do "Rap-Core". Isso acontece mesmo. De certa forma até ofusca a amplitude do "ritmo de Jah". Aí penso: não é mais válido tentar evidenciar o Reggae Roots de outras formas, a fim de valorizá-lo ante a mídia? (se é que isso é realmente importante...)
Outro item que os "regueiros experientes" não param pra pensar: Você conhece a banda Niominka Bi N’Diaxas? Cedric Myton? The Congos? Eek a Mouse? Ini Kamoze? Pois bem, você pode conhecer, mas com certeza a maioria esmagadora nunca nem ouviu falar dessas bandas. Fica difícil cobrar que essas pessoas escutem certas coisas, quando não se acha nem para download, nem em lojas físicas normais. Precisa muita pesquisa, contatos, enfim, obstáculos que espantam algumas pessoas, e o Roots Rock Reggae acaba virando privilégio para poucos, restringido-se apenas ao "messias" da coisa toda, o rei Bob Marley. Quem se dispor a pesquisar verá que Bob Marley é maravilhoso, mas é apenas a "ponta do iceberg".
Antes que alguém me coloque na cruz, utilizo áspas em "Regueiros mais Experientes", pois estou ironizando aqueles que acham que o fato de ouvirem boas músicas, dos melhores artistas do reggae mundial, os torna mais importantes ou detentores da Palavra. Os Regueiros experientes de verdade, possuem personalidade e opinião inabaláveis, o que neutraliza qualquer coisa atroz ao que realmente gostam e acreditam.
Se alguém gosta, tem fã-clube dessas bandas novas, ótimo! O único conselho que deixo é que nunca gostem de nada gratuitamente, ou seja, sempre estude suas escolhas, as origens, pois com isso você acaba se descobrindo, se conhecendo e exercitando seu senso crítico. Tenha certeza que isso valerá para muitos outros campos de sua vida. E quanto ao Reggae Roots, procure conhecer e se posicionar com conciência nesse "meio-campo" disputado da cena atual. Arise!
Fonte: Rangel Surforeggae
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