Comunidade negra remanescente do Pelourinho - Salvador, sofre com o abandono do público e do governo. Esconderijo do roots reggae em Salvador, a comunidade da Rocinha começou a ser freqüentada por alguns poucos que pagavam um quilo de alimento, ou nada, para escutar o reggae da banda Bem Aventurados e de seus convidados. Aos poucos, o público foi se expandindo e a popularidade do local aumentando bastante. Entre os anos de 2001 e 2004, a Rocinha esteve badalada. Pessoas diferentes, porém com os mesmos objetivos (ouvir o roots reggae e aproveitar a "liberdade" que o local oferecia), lotavam os bares e barrancos da comunidade.
As instalações precárias e o chão de barro, pareciam atrair ainda mais a curiosidade de nativos e turistas interessados em conhecer a comunidade escondida por trás de um beco no Centro Histórico de Salvador. Era comum ouvir o reggae enquanto as roupas balançavam num varal, e sentindo o cheiro do feijão do dia seguinte misturado aos outros aromas do local.
A transformação de uma simples comunidade em um “point”, trouxe benefícios para os moradores. A venda de alimentos e bebidas, dentre outros artigos, gerava renda e orgulho para a comunidade, porém o aumento da popularidade do gueto da Rocinha, acarretou no desgaste do lugar, que se tornou visado pela imprensa e conseqüentemente por autoridades. Batidas policiais passaram a ocorrer freqüentemente, e a apreensão de drogas tornou-se rotineira. As vibrações negativas e a presença da polícia afugentavam os regueiros cada vez mais.
A comunidade voltou a sofrer com a "fuga" dos freqüentadores além da possibilidade de despejo, para dar lugar a um estacionamento. Esta situação é citada em uma das músicas cantadas por Alumínio e sua banda "Carruagem de Fogo", cuja data do ocorrido se tornou título do último álbum da banda (22 de Setembro de 2003), que é uma das principais atrações das sextas e terças-feiras da Rocinha. A música narra a invasão da polícia na comunidade com o intuito de expulsar os moradores do local, sem nenhum mandato.
O fato gerou uma mobilização por parte de alguns políticos e representantes do movimento negro da cidade, o que fez a polícia recuar. Depois de toda essa turbulência, alguns acontecimentos bizarros ocorreram e a Rocinha encontra-se hoje vegetando por conta do abandono do seu antigo público. Durante uma conversa com Ras Ednaldo Sá, membro dos primórdios da Bem Aventurados, músico há vinte anos e morador da rocinha, o mesmo atribui a decadência do "point" à má administração dos próprios moradores. Ednaldo conta que por volta de 1995, quando o Cultura em Movimento (nome do evento semanal que acontece na Rocinha) teve início, havia uma preocupação social. Os alimentos arrecadados na portaria eram distribuídos para a comunidade e havia uma interação entre os moradores e o evento.
Com o tempo, os ingressos passaram a ser pagos em dinheiro e infelizmente o fator social foi deixado de lado. "Passou a ser cada um por si". Talvez a falta de censo de coletividade, tenha sido a causa do enfraquecimento da essência primária da Rocinha. Contam que o local recebeu este nome devido à variedade de frutas que brotavam no seu pomar, no início da sua formação, quando começou a ser habitada por negros que trabalhavam nas imediações do centro da cidade.
Atualmente a comunidade excluída do projeto de revitalização do Centro Histórico de Salvador sofre duras penas: sem acesso a nenhum tipo de estrutura e a falta de saneamento básico. É interessante a relação entre a Rocinha e o reggae, ambos simbolizam a resistência à exclusão sócio-econômica da população negra, e ao mesmo tempo são tratados como insignificantes por grande parte da sociedade.
Não há nenhuma expectativa com relação a iniciativas do governo para a melhoria da comunidade, estranhamente abandonada e camuflada em um dos pontos turísticos mais visitados da cidade.
Fonte: Maraise Massena / Colaboradora Surforeggae - BA
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