Toda sexta-feira, em pleno coração da Babilônia paulistana, ritmos jamaicanos cortam a noite e espalham vibrações positivas pelas ruas do centro da cidade. O Dj Yellow P e o MC Zulu ocupam o porão apertado do Susi in Transe, um quarto escuro que remete a qualquer cena underground do planeta, onde garotos e garotas dançam até às cinco da manhã embalados por boa música, ambiente pacífico e cerveja barata e gelada. Instalada a menos de uma quadra do Largo do Arouche, a sexta do Susi in Transe oferece uma série de características que fazem falta na grande maioria das baladas de São Paulo: a ausência de filas e hostess exigentes na porta, seguranças amigáveis, liberdade de expressão e pessoal atencioso imperam na Dub Night mais roots da metrópole.
Aos 22 anos, o DJ Yellow P surpreende os fãs do gênero tocando raridades de LPs e 7" escapando dos hits reggae que tocam nas FMs e festas/show surf-ioioio-forregae. Nos toca-discos abençoados por um retrato do imperador e pacificador etíope, leão de judah, o messias dos Rastafari Ras Takonnen, coroado Haile Selassie, Yellow P enfumaça as mentes do público com os grooves crus e harmônicos do Dub. Toda semana, ele tira uma novidade do case surpreendendo até mesmo os frequentadores mais assíduos. É comum ver pessoas esticando o pescoço para tentar ler o rótulo do disco e identificar o artista. "Nos últimos três anos, tenho comprado discos como um psicopata", diz Yellow P. "Quero que todo o tipo de gente participe da festa e que, através da música, as pessoas se livrem de preconceitos culturais e entendam a verdadeira origem do reggae, sua mensagem espiritual e de expansão de consciência".
"Eu vim da cena hip hop", explica o Mc Zulu, 26 anos, "e no caminho conheci pessoas que me apresentaram ao reggae e à cultura do MC, mostrando que ela nasceu na Jamaica". Zulu canta, improvisa e rima em português sobre as bases de Dub e às vezes arrisca um inglês com sotaque carregado, mas o importante é que ele dá o recado. "Penso muito antes de escrever uma letra para passar mensagens responsáveis", ele diz, e seus discursos acompanham os mantras de drum and bass emprestando conteúdo à música. A figura do MC ao vivo é pouco comum na cena paulistana e a noite Dub do Susi ganha em personalidade com essa fórmula.
Funcionando desde de maio de 2002, o Susi in Dub reúne, acima de tudo, velhos e novos amigos, criando um clima de confraternização permanente. A família comecou a ser formada com os amigos do DJ e do MC, que por sua vez trouxeram outros amigos e conhecidos e assim uma galera sorridente e do bem, sempre pontuada por novas faces, se diverte sem nunca ter provocado uma briga sequer.
Yellow P e Zulu recebem um convidado diferente a cada semana, o que proporciona uma certa felicidade de descobrir que há tanta gente que conhece, gosta e toca reggae de verdade. Simone Soul, Bid, DJ SoulSlinger, a banda Afetos, Alfredo Bello e Salum, entre outros convidados, contribuíram com sua presenca e ajudaram a iluminar a casa. E, em um daqueles momentos em que parece que o mundo parou, a lenda viva do dub Mad Professor, de passagem pela cidade em setembro de 2002, acompanhado de um copo de brandy e de sua crew (MC Spider e os músicos Sinclair e Kurk), dançou até de madrugada a sequência disparada por Yellow P.
Outro atrativo da casa é o preço, justo e razoável para comecar o final de semana ou fechar a semana na melhor vibe possível. Pode-se optar por pagar R$ 5 de entrada ou R$ 12 de consumação. Para a mulherada, a entrada é grátis até 0:47h com a apresentação do flier.
Em tempos de governo novo e grandes esperanças nacionais, ameaças de Guerra e crises internacionais, passar a noite de Sexta entre amigos mexendo o corpo no ritmo suave e revitalizante do Dub ajuda a lavar a alma e colocar as idéias no lugar. Uma balada para relaxar e conhecer gente que acredita que mudar o mundo começa com consciência e boa música.
DUB: O Dub não é a versão desacelerada do reggae - Dub é reggae. Surgido na Jamaica no final dos anos 60, o Dub foi um dos primeiros estilos musicais a se valer de adereços eletrônicos e é o refúgio do reggae de qualidade produzido atualmente. O Dub foi a forma criativa que os produtores jamaicanos encontraram para incrementar o lado B dos compactos, que traziam as versões intrumentais das canções do lado A; foram inseridos efeitos de mesa com o uso de echo e delay analógicos, dando um toque de lisergia ao reggae. Na mesma época, os Djs perceberam que o Dub oferecia uma possibilidade de ser utilizado como base para vocais improvisados - daí o surgimento dos MCs.
MAIS INFORMAÇÕES
 Susi in Transe: (11) 3337.1915
Endereço: Rua Vitória 810 - Centro
Fonte: Equipe Surforeggae
 'Susi in Dub'
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